A nova geografia do mercado imobiliário

Nos últimos anos, mudanças sociais e económicas têm redesenhado a geografia do mercado imobiliário. A ascensão do teletrabalho, novas dinâmicas migratórias e a valorização de cidades secundárias têm vindo a transformar a forma como escolhemos onde viver e investir.

Ciente e, simultaneamente, interessada em perceber melhor esta nova realidade, ao longo deste novo artigo, procuro explorar como estes fatores estão a redefinir as nossas cidades e o setor imobiliário.

Começo então por recordar que, historicamente, os grandes centros urbanos concentravam as oportunidades de emprego e, consequentemente, a maior parte da procura imobiliária. No entanto, o aumento do custo de vida e a melhoria das infraestruturas nas cidades secundárias têm tornado estas últimas cada vez mais atrativas.

E porquê?

Em minha opinião, pelas seguintes razões que me parecem estar na base dessa atratividade:

  • Custo-benefício – o preço do metro quadrado em cidades como Braga, Aveiro ou Évora pode ser significativamente inferior ao de Lisboa ou Porto, oferecendo maior qualidade de vida por um custo menor. A título de exemplo, o mais recente relatório divulgado pelo idealista, relativo a janeiro de 2025, refere que o preço médio unitário de venda por metro quadrado em Portugal foi de 2.693 euros/m2. Por distritos, os preços unitários mais elevados registaram-se em Lisboa, Faro e, embora longe destes, na Madeira e no Porto. O distrito com o preço mais baixo foi o da Guarda, com 696 euros/m2.
  • Infraestruturas e conectividade – a melhoria que se vem registando em transportes públicos e nos acessos rodoviários aproximam estas cidades dos grandes centros, tornando-as alternativas viáveis.
  • Dinamização económica – a descentralização de empresas e o crescimento de polos universitários e tecnológicos estão também a contribuir para o impulsionamento do mercado imobiliário local.

O impacto do teletrabalho e da mobilidade na escolha de habitação

De qualquer forma, não nos podemos esquecer também que o teletrabalho trouxe uma mudança fundamental – já não é necessário viver perto do local de trabalho para manter produtividade e crescimento profissional. E, obviamente, isso acaba por se refletir no mercado imobiliário.

Se não, vejamos:

  • Preferência por espaços maiores – casas com escritório e áreas exteriores passaram a ser mais procuradas.
  • Fuga dos centros urbanos – muitos profissionais estão a trocar apartamentos pequenos em grandes cidades por moradias em zonas periféricas ou até rurais.
  • Flexibilidade e mobilidade – o conceito de “nómadas digitais” ganhou força, com pessoas a escolherem diferentes localizações consoante o estilo de vida desejado.

A propósito desta tendência, realço os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que referem que, do total da população empregada (5 148,8 mil pessoas), 21,5% (1 105,8 mil pessoas) indicaram ter trabalhado em casa no 4.º trimestre de 2024. Desses 23,7% (262,6 mil) fizeram-no sempre, 37,9% (418,6 mil) fizeram-no regularmente mediante um sistema híbrido, 15,6% (172,0 mil) trabalharam em casa pontualmente e 22,5% (248,5 mil) fizeram-no fora do horário de trabalho.

O número de pessoas a trabalhar em casa mediante um regime híbrido aumentou em relação ao trimestre anterior (40,9 mil) e ao homólogo (81,6 mil).

Em suma, estes dados mais recentes do INE evidenciam um aumento significativo no número de pessoas a trabalhar em casa, especialmente em regime híbrido, refletindo uma transformação nas dinâmicas laborais que se tem vindo a consolidar. Esta tendência destaca a crescente flexibilidade no mercado de trabalho, uma mudança que promete continuar a moldar o futuro do emprego em Portugal. E, claro está, também o futuro do imobiliário nacional.

Tendências migratórias internas e internacionais e o seu efeito no setor imobiliário

No mesmo sentido, também as migrações têm vindo a ter um impacto direto no mercado imobiliário, influenciando a oferta e a procura de imóveis em diferentes regiões.

E explico porque partilho desta opinião:

  • Migração interna – muitos portugueses estão a sair dos grandes centros em busca de melhor qualidade de vida e habitação mais acessível. Ao mesmo tempo, algumas regiões beneficiam de novos investimentos e crescimento populacional.
  • Investimento estrangeiro – Portugal continua a atrair investidores e expatriados, impulsionado pela segurança, clima e por políticas governamentais favoráveis, incluindo incentivos fiscais vantajosos para quem deseja viver e investir no país. A crescente procura por imóveis por parte de cidadãos estrangeiros tem pressionado os preços, especialmente em zonas de alta atratividade turística e económica. Segundo o último relatório do Idealista, de acordo com o local a partir do qual é feita a procura estrangeira no mercado de venda, no final de janeiro de 2025, 20% dessa procura de imóveis residenciais foi internacional.
  • Impacto na habitação acessível – a valorização do imobiliário tem levado a desafios em algumas cidades, onde os residentes locais enfrentam dificuldades para encontrar opções compatíveis com os seus rendimentos.

Conclusão

Em jeito de conclusão, sublinho, uma vez mais, que o mercado imobiliário está em constante transformação, e a sua geografia está a ser redefinida por mudanças no estilo de vida, no trabalho e nas dinâmicas populacionais. Com a descentralização das oportunidades e a crescente mobilidade, as cidades secundárias assumem, assim, um papel cada vez mais relevante, enquanto o teletrabalho e as migrações internacionais continuam a influenciar as escolhas de habitação.

Para investidores, compradores e profissionais do setor, compreender estas mudanças é essencial para antecipar tendências e tomar decisões estratégicas. Afinal, as cidades do futuro serão moldadas não apenas pelas infraestruturas, mas pelas escolhas das pessoas que nelas habitam.

Concordam?!

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